13/04/2023

Advogado empreende com bar, mercearia e café no mesmo prédio em que mora, no centro de São Paulo

Marco Braga e seu sócio Damien Lamquet juntaram a sua vivência no centro da cidade com o a paixão por produtos artesanais, como queijos e vinhos, para abrir a à Mercê

Marco Braga tem uma relação especial com a região central de São Paulo desde 2002, quando começou a faculdade de direito da Universidade de São Paulo, que fica no Largo São Francisco. Poucos anos depois, ele se mudou para o Centro e realizou trabalho voluntário na região. Hoje, a apenas 1,5 km de onde estudou, ele é sócio de um estabelecimento que é uma mercearia, um bar de vinhos e um café, localizado no mesmo prédio onde mora.

Antes mesmo de criar esse negócio, o advogado já tinha experiência com o mercado de queijos e outros produtos brasileiros que viriam a ser vendidos no local. Braga estuda e advoga, desde 2015, pela regulamentação dos produtos artesanais no Brasil. "Eu desenvolvi uma relação muito boa com os produtores de queijo artesanal no Brasil porque cheguei até a mudar as leis aqui no país. Mas nunca imaginei que iria vender queijo", revela.

Na pandemia, Braga percebeu a dificuldade que os produtores da Serra da Canastra estavam tendo para vender as suas peças de queijo e resolveu ajudar. "Eu comprava as peças de queijo e revendia", relembra. "Naquela época, não tinha lucro. Se eu comprasse a peça por R$ 50, eu revendia a R$ 50 mais o valor do envio." O advogado chegou a ter 150 peças de queijo de uma vez na sua casa.

Impulsionado pelo sucesso das vendas, ele resolveu lucrar com o negócio e fundou, no começo de 2021, uma distribuidora de queijos chamada Queijo Come Quieto, que funciona até hoje com serviços de assinatura e de delivery. "A empresa deu certo e eu comecei a atender alguns restaurantes da cidade, como o Carlota", conta.

Por causa do sucesso de seu negócio de queijos, no final daquele mesmo ano, Braga foi procurado por Damien Lamquet e Benoit Mathurin, que tinham planos de abrir um empório. Na concepção original, o estabelecimento seria aberto em Pinheiros, na zona oeste de São Paulo, e o advogado ficaria responsável pela seleção de produtos artesanais, como os queijos. "Eu achei a ideia super legal, mas queria fazer no centro da cidade, porque é um lugar com que eu tenho identidade", afirma Braga, que também tem um escritório de advocacia no centro.

Com a mudança de local, Mathurin teve que deixar a sociedade por questões contratuais de outro restaurante que ele possui. Lamquet e Braga seguiram com a vontade de abrir um negócio no centro, mas ainda sem um local definido.

Durante a fase de planejamento, o francobrasileiro Lamquet deu uma carona para Braga e ficou encantado com a semelhança que o prédio em que o arquiteto mora tem com os edifícios franceses.

Os dois, então, resolveram alugar um espaço na fachada do local. "Por ser no centro, o prédio tem fachada ativa — quando o prédio tem comércio na frente", explica Braga. "É uma coisa que não vemos muito em outros cantos da cidade."

Braga conta que, mesmo com o espaço alugado, os dois ainda não tinham um plano de negócio e não sabiam muito bem como estruturar a à Mercê. A resposta veio da própria arquitetura do espaço.

Como o prédio foi construído no pós-guerra, o porão é um bunker. "A nossa primeira ideia foi construir um bar de vinhos ali. Fizemos toda a decoração e faltou decidir o que iríamos fazer no térreo."

A princípio, os dois optaram por fazer apenas a mercearia no local. Mas Braga avaliou que só uma loja não atrairia os clientes do bairro. Eles juntaram a venda de produtos nacionais com uma cafeteria. "Agora, o cliente entra para tomar um café de R$ 7 ou R$ 8, vê que tem um flocão de milho, uma goiabada gostosa, um docinho e também a mercearia. É uma desculpa para voltar depois ou levar para casa."

Na à Mercê, que tem como foco os produtos artesanais e sazonais, todos os produtos que são vendidos na cafeteria podem ser comprados na mercearia. "O negócio tem que ser o mais circular possível. Ele não se sustentaria individualmente", diz. "Se fosse apenas um bar de vinhos, eu ia ter dificuldade. Se fosse só uma cafeteria, também. Só uma mercearia, mais ainda. Então eu preciso fazer com que o meu o produto sirva a todos os negócios que eu tenho ali dentro".

Além do subsolo e do térreo, os sócios idealizaram um espaço mais calmo no mezanino para contrastar com a agitação do centro da cidade. Ali funciona normalmente como um espaço de coworking e, em dias específicos, o local recebe eventos de degustação de vinhos, para incentivar o consumo de itens de pequenos produtores.

Após todo o planejamento baseado no espaço alugado, Lamquet e Braga abriram as portas em junho de 2022. O sócio incorporou muito da sua vivência no local. Além de morar ali, ele trabalha com os mesmos fornecedores com quem tinha contato como advogado.

Até mesmo o grupo de samba que toca na calçada é um grupo do bairro. O "Quarteto em Dó Machado" se apresenta todos os domingos às 13h.

De acordo com Braga, o operacional ainda é um desafio para o empreendimento. "Eu não sou do meio, então ainda tenho dificuldade em estabelecer uma rotina muito bem definida para os funcionários, por exemplo", afirma.

Em 2022, com a à Mercê ainda se estruturando, os sócios faturaram cerca de R$ 80 mil por mês. Neste ano, o faturamento mensal já cresceu para R$ 110 mil e a estimativa é que, até o final de 2023, esses números ultrapassem os R$ 160 mil.

Fonte:https://revistapegn.globo.com/ideias-de-negocios/noticia/2023/04/advogado-empreende-com-bar-mercearia-e-cafe-no-mesmo-predio-em-que-mora-no-centro-de-sao-paulo.ghtml