13/06/2019

APÓS FUGIR DA GUERRA, ELE TROUXE O FRANGO FRITO COREANO PARA O BRASIL

Sun Kwon Kin é o proprietário do K'pop Chicken, uma rede de restaurantes que aposta em receitas típicas de seu país para conquistar os clientes brasileiros.

Explorar a gastronomia de sua terra natal é uma das grandes oportunidades de negócios encontradas por imigrantes no Brasil. Na capital paulista, por exemplo, não é difícil achar restaurantes de comida árabejaponesa e até mesmo peruana. Todos eles se destacam por trazer a identidade dos seus países de origem nos pratos.

Essa característica também faz parte do K'pop Chicken, rede de restaurantes fundada pelo sul-coreano Sun Kwon Kin.

Em vez de se ater ao estereótipo da gastronomia oriental, que geralmente consiste em frutos do mar, ele inovou ao trazer o frango frito típico da Coreia para o Brasil.

O principal diferencial do produto é a sua consistência, crocante no exterior e “molhada” por dentro. Dependendo do molho utilizado, o prato também adquire um sabor adocicado – tornando o alimento exótico para alguns paladares.

A rede optou por não divulgar seu faturamento.

Segundo Renato Dianese, sócio e cozinheiro chefe da rede, o segredo do frango está na farinha utilizada, que é importada diretamente da Coreia. “Nós, inclusive, chamamos cozinheiros coreanos para nos ensinar todo o know-how do produto”.

Ele ainda conta que, apesar de seguir a receita típica do país, os pratos precisaram sofrer algumas alterações para se adequar ao paladar brasileiro. “Os coreanos gostam do frango com muita picância, já o brasileiro não”.  A solução foi vender o molho picante a parte.

O cardápio também incluí pratos típicos da região, doces e sodas.

Guerra e gastronomia
Os anos 60 foram conturbados para a Coreia. Ainda se recuperando do conflito internacional que partiu o país ao meio, os sul-coreanos se viram envolvidos na Guerra do Vietnã. Foi nesse cenário complicado que a família de Sun Kwon Kin (também conhecido como “Senhor Sun”), decidiu procurar melhores oportunidades no Brasil.

Mas a chegada na América Latina não foi fácil. Para sobreviver, os imigrantes inicialmente tiveram que trabalhar confeccionando roupas. Mas o empreendedorismo corria nas veias de Sun – e isso iria acabar mudando a vida de todos.

E foi esse espírito de negócios que o levou a abrir sua primeira loja de roupas.

Com uma administração afiada e a expertise de Sun no setor, o empreendimento prosperou. Aos 40 anos, o imigrante já era proprietário de uma rede de nove lojas.

Mas a trajetória profissional do empreendedor ainda estava longe de acabar. Certo dia, Sun foi vítima da violência urbana. Após reagir a um assalto em um de seus estabelecimentos, o empreendedor foi baleado. O trauma gerado pela experiência foi tão grande que ele resolveu vender seus negócios e voltar para a Coreia.

Quando chegou em sua terra natal, Sun se deparou com um país diferente daquele que havia deixado. Após a década de 70, a Coreia do Sul sofreu um “boom” econômico. Com a influência do Ocidente cada vez mais forte, um dos fenômenos notados pelo empreendedor foi a expansão das franquias de fast food locais – especialmente as de frango frito.

Foi aí que surgiu a ideia: por que não trazer essa tendência para o Brasil? Foi o que ele fez.

O planejamento
Sun voltou para o Brasil em 2008, já com a ideia de empreender no ramo alimentício. Para isso, procurou ajuda de seu sobrinho, Rafael Shu, que por sua vez chamou Renato Dianese (que era seu amigo de infância) para elaborar o cardápio.

Juntos, eles encararam três anos planejamento, que incluiu viagens para conhecer fornecedores na Coréia do Sul. O resultado de tudo isso foi a abertura do K'pop Chicken em 2013.

Mas mesmo com o negócio aberto, a pesquisa ainda não estava finalizada. Desde o início, os empreendedores já tinham a intenção de adotar o modelo de franquias. Mas para isso, era preciso estudar os modelos mais rentáveis para os futuros franqueados.

O primeiro estabelecimento seguiu o estilo de um restaurante tradicional, com grandes mesas, atendimento especial e um cardápio extenso. Em 2014, eles resolveram apostar no delivery, abrindo uma unidade que atendia exclusivamente nesse modelo.

Posteriormente, a K'pop Chicken resolveu testar um modelo diferente na rua Augusta, com um cardápio menor e equipe mais enxuta. Deu certo. “O maior diferencial dessa nossa unidade é que conseguimos servir a comida rapidamente, mas sem perder a qualidade do alimento”, diz Shu.

K'pop e frango?
Hoje, é difícil achar alguém que nunca tenha ouvido falar no gênero musical k-pop. Popularizado mundialmente em 2015, com o hit “Gangnam Style”, esse estilo se tornou uma febre entre os jovens. Mas Sun explica que o nome da rede não é uma referência a essa febre musical.

Segundo o empreendedor, a palavra “K'pop” foi escolhida porque remete a um movimento cultural sul-coreano que ultrapassa as barreiras musicais. A rede incorporaria essa ideia, apresentando uma Coreia moderna e efervescente.

Com o conceito da marca já consolidado e cinco unidades em funcionamento, os três sócios agora buscam vender a ideia para outros empreendedores. O modelo de franquias está sendo estruturado e, segundo o grupo, deve ser anunciado já no ano que vem.

Fonte:https://revistapegn.globo.com/Banco-de-ideias/Alimentacao/noticia/2019/06/apos-fugir-da-guerra-ele-trouxe-o-frango-frito-coreano-para-o-brasil.html