Com a liberação no exterior para fins medicinais ou recreativos, uma nova leva de empreendedores surge — também no Brasil.
Carold Winston, 34 anos, faz sucesso em um novo ramo: o mercado da maconha legalizada. O brasileiro mora em Los Angeles, na Califórnia, e criou um método inovador de extração de um princípio ativo da planta, o tetraidrocanabinol (THC), a partir do qual faz cristais de haxixe. Antes de se mudar para os Estados Unidos, passou pela “meca” do consumo da maconha: Amsterdã. Com 18 anos, mudou-se para a capital holandesa e começou a estudar o cultivo da erva.
Winston é fundador da BAMF, um acrônimo para Badass Motherfucker — “filho da mãe durão”, em uma tradução bem-educada. A empresa foi fundada pouco depois de o brasileiro ganhar sua primeira medalha na Cannabis Cup, competição realizada por uma publicação especializada no assunto nos Estados Unidos.
Em sua primeira participação, em 2011, ele venceu 37 rivais na categoria Melhor Haxixe. Na época, era o único produtor a fazer o haxixe de forma orgânica e não química. Os cristais da droga produzida por Winston são vendidos por até US$ 250 o grama — cerca de R$ 1.000. Para se ter uma ideia do valor do produto, o grama do ouro variou entre R$ 160 e R$ 170 no Brasil em 2019.
Países que estão liberando o consumo da maconha para fins medicinais e recreativos, como o Canadá e alguns locais dos Estados Unidos, têm visto o setor da maconha legal, como é chamado, crescer. No Brasil, o consumo da droga não é permitido.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) realizou uma consulta pública, finalizada no dia 19 de agosto, sobre a liberação do consumo e plantio para fins medicinais. Mais de 20 empresas nacionais e estrangeiras manifestaram interesse em cultivar maconha no Brasil. Mas, antes de qualquer mudança, empreendedores do país já estão de olho nesse novo e potencial setor.
Esse é o caso da empresária Viviane Sedola. Ela fundou a plataforma Dr. Cannabis para divulgar informações sobre a compra legalizada de substâncias como canabidiol (CBD) e tetraidrocanabinol (THC). Apesar das proibições atuais, desde 2015 é possível importar remédios à base dessas substâncias com autorização de um profissional, se cumpridas as exigências da Anvisa.
A ideia do portal surgiu quando Viviane, cofundadora e ex-executiva da empresa de crowdfunding Kickante, viu que faltava ao mercado de cannabis um maior esforço de comunicação. “Falar de tratamento com maconha no Brasil ainda é um tabu, falta muita informação. Queremos mudar esse cenário e popularizar a discussão”, diz Viviane.
Globalmente, o setor tem visto bons resultados. O Canadá legalizou federalmente o consumo de maconha para fins recreativos e virou um polo de startups deste setor. O país já viu até o surgimento de unicórnios, companhias que ultrapassam a marca de US$ 1 bilhão em valor de mercado.
O primeiro deste setor, aliás, saiu de lá: a Canopy Growth. A companhia já deu seus primeiros passos no Brasil ao abrir uma filial de seu braço medicinal, a Spectrum Therapeutics, em São Paulo, em junho deste ano.