01/04/2021

Como vencer o segundo tempo da pandemia

Mais preparados do que em 2020, os empreendedores contam com novos recursos para enfrentar a crise. Mas, para atravessar os próximos meses, será preciso ter muito controle e resiliência.

Depois de um intervalo que nem chegou a ter 15 minutos, e nem mesmo foi um intervalo, os empreendedores voltam a enfrentar um inimigo devastador, que veio com reforços e nenhuma demonstração de cansaço. É verdade que houve um aprendizado, e hoje a equipe conta com táticas bem estudadas para lidar com a situação adversa. Mas o cansaço dos fundadores é evidente. E os reforços, do lado de cá, estão demorando muito para chegar. Será preciso ter muita resiliência e controlar muito bem os recursos para se manter no jogo até a chegada da ajuda externa – essa sim, capaz de parar o inimigo.

Nos últimos dois meses, a nova onda da covid-19, mais agressiva e mortal do que a anterior, atingiu em cheio as micro, pequenas e médias empresas. A recuperação lenta, mas constante, que havia começado em maio de 2020, foi bruscamente interrompida. Segundo pesquisa do Sebrae e da FGV, a queda média das receitas das pequenas e médias empresas (PMEs) em fevereiro foi de 40% em relação à pré-pandemia, retrocedendo ao mesmo patamar de agosto do ano passado. Os índices de confiança dos comerciantes e dos consumidores caíram em março, atingiram o menor nível desde maio do ano passado. Com uma queda de 18,5 pontos ante fevereiro, o Índice de Confiança do Comércio (Icom) foi a 72,5 pontos, segundo a FGV. Já o Índice de Confiança do Consumidor (ICC) caiu 9,8 pontos, chegando a 68,2.A seu favor, o empreendedor tem 12 longos meses de aprendizado. Desde o início da pandemia, ele fez a migração para o digital, reinventou seu modelo de negócio, cortou gastos, controlou a gestão de pessoas e batalhou para ter acesso às linhas de crédito do governo. Depois de tudo isso, pode até mesmo dar aulas sobre como lidar com a crise. O problema é que o cenário não é o mesmo. Hoje convivemos com uma segunda onda descontrolada, e a única solução parece ser uma combinação de lockdowns com vacinação em massa – mas não existe uma perspectiva sobre como ou quando essas coisas vão acontecer. Além disso, temos um ambiente de negócios inflacionário, com pouco estímulo ao consumo (o pagamento do auxílio emergencial, que começa no dia 6 de abril, terá valores menores do que em 2020) e dificuldade de acesso a crédito.

A renovação do Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe), que deve ser anunciada em breve, segundo o Ministério da Economia, pode ajudar a melhorar esse cenário. De acordo com dados da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), entre junho e novembro de 2020, o Pronampe beneficiou 441,2 mil empresas, com dotação de R$ 32,8 bilhões. Outra medida que poderá dar um certo alento ao empreendedor é a reedição da MP 936/2020, que permitiu às empresas reduzir jornadas de trabalho e suspender contratos, para controlar gastos e evitar demissões. Nada disso, porém, será suficiente para recolocar as PMEs no caminho do crescimento.

Sem poder controlar os rumos da pandemia (e da economia), o que o empreendedor pode – e deve – fazer é elaborar um planejamento de receitas e despesas e traçar diferentes cenários, de acordo com a volatilidade. Ele terá de (mais uma vez) rever custos, considerar mudanças no modelo de negócio, estreitar o relacionamento com o cliente e explorar ao máximo as possibilidades dos canais digitais. Resiliência será a palavra-chave para conseguir manter a empresa de pé até que o país possa retornar a algum tipo de normalidade, e os níveis de consumo voltem a crescer. Aqui em PEGN, nós seguiremos ao lado do empreendedor em todos os momentos, apoiando o negócio local, estimulando a transformação digital, mostrando como (e quando) conseguir crédito e manter um caixa saudável. A partida ainda não terminou. E sempre dá para virar o jogo, nem que seja na prorrogação.

* Marisa Adán Gil é editora executiva de PEGN

 

Fonte:https://revistapegn.globo.com/PEGN-em-dia/noticia/2021/04/como-vencer-o-segundo-tempo-da-pandemia.html