07/05/2021

Empreendedora fatura com coworking para médicos e dentistas criado na pandemia

Além de consultórios compartilhados, o Opt.Doc oferece serviços administrativos, tecnológicos, exames e reembolsos de convênio médico.

A primeira vez que o clínico odontológico Andrew Melenikiotis, de 53 anos, ouviu falar no consultório compartilhado Opt.Doc foi em janeiro de 2020. Ele atuava em um consultório próprio há 28 anos e dividia o seu tempo entre os atendimentos em São Paulo e ministrar aulas no Paraná. Por meio de uma amiga em comum, o médico conheceu a arquiteta Patrícia Del Gaizo Maia, que tinha o projeto do coworking médico em São Paulo. “Eu visitei o espaço antes de ser montado completamente, mas já gostei bastante da proposta”, diz.

Melenikiotis conta que a chegada da pandemia trouxe incertezas para a sua profissão, uma vez que é preciso lidar diretamente com a boca do paciente, uma área sensível de contágio. “Nos primeiros meses, toda a parte cínica parou. Eu fui fazer uns cursos de gestão e negócios – e foi quando percebi que estava fazendo tudo errado.”

Isso foi um dos insights que o motivou a mudar de endereço depois de quase três décadas, mas não foi uma decisão fácil. “Tive aqueles pensamentos de ‘ah, mas a sala não é minha’, ‘vai ser tudo compartilhado’, ‘vou ter que me adequar a tudo isso’”. De acordo com ele, os primeiros dias já mostraram que todas as vantagens superavam as preocupações.

Maia tinha previsão de inaugurar o Opt.Doc em março, mas precisou adiar os planos devido à pandemia e conseguiu começar a rodar, de fato, em agosto. Melenikiotis foi um dos primeiros clientes. O investimento total da arquiteta para construir o espaço de 20 consultórios foi de R$ 4 milhões, o que já incluiu equipamentos com tecnologia internacional que podem ser usados pelos profissionais no atendimento e também para exames, por exemplo.

Hoje, o espaço atende 170 médicos e dentistas, cerca de 20% da capacidade total. Os espaços são locados a R$ 150 por hora e a empresa não tem acesso a nenhuma transação financeira entre médico e paciente, logo, o profissional pode praticar o preço que julgar mais conveniente para os serviços prestados.

Todos os encargos administrativos, bem como o agendamento de consultas, são feitos pela própria Opt.Doc. Os profissionais também têm à disposição uma assistente de sala para procedimentos.

Com esses números, a empresa tem faturado cerca de R$ 130 mil por mês. Maia projeta que isso possa chegar a R$ 500 mil até o final do ano, conforme a demanda de clientes e também de pacientes cresça. A empresa tem recebido cerca de vinte novos profissionais por mês, de acordo com ela.

Segundo o último levantamento do Censo Coworking Brasil, de 2019, existiam 1497 espaços compartilhados no Brasil, de todos os tipos. São Paulo é o estado com a maior participação, com cerca de 390 coworkings. Apenas 5% do total de coworkings existentes no levantamento eram de saúde. Os dados de 2020 ainda não foram divulgados.

O Opt.Doc já tem concorrentes diretos no mercado, como o Livance, Espaço Médico Brasil ou o Buratto Consultórios, por exemplo. Para se diferenciar, Maia conta que fechou contratos de parcerias com serviços para turbinar a experiência do profissional. Um deles é a central de exames da MD Analytics, há também o serviço para reembolso de consultas da Regulacare e até serviços financeiros para médicos e dentistas com a fintech Edanbank.

O modelo de coworking médico ainda é recente, e Maia diz que a maior parte dos médicos e dentistas têm um tempo natural para pensar entre a proposta e a adesão ao espaço. O público da empresa hoje está mais concentrado em profissionais recém-formados, mas outra demanda também a surpreendeu: médicos que atendem fora de São Paulo e profissionais que aproveitaram a pandemia para reformar o próprio consultório. “Para o médico ou dentista que têm que fechar o próprio consultório, é uma decisão mais lenta. Algumas visitas começaram em julho do ano passado e estão se convertendo agora em março e abril”, diz.

O profissional Melenikiotis diz que a taxa de conversão de consultas em procedimentos também cresceu no coworking, pois o cliente já pode ser direcionado para realizar os exames na hora, sem precisar agendar um retorno. Além disso, um dos ganhos elencados por ele foi a possibilidade de networking com outros profissionais.

“Quando se elabora um tratamento multidisciplinar, já temos a opinião de outro profissional da área médica. Dentro de um mesmo espaço físico há possibilidade de desenvolver a sua área com outros profissionais.” Ele afirma que os maiores ganhos não são financeiros, o que ele calcula ser uma média de 10%, mas de tempo disponível para se aprimorar, ou até atender mais pacientes.

O faturamento do Opt.Doc tem oscilado de acordo com as condições de restrição na capital paulista, mesmo que seja considerado um serviço essencial. Maia diz que novembro de 2020 foi o melhor mês até o momento, com um aumento de 40%. A semana de feriados antecipados, em março, por exemplo, fez com que a receita caísse.

Ainda em 2021, a empreendedora pretende inaugurar mais dois Opt.Docs, com o capital de um fundo de investimentos. Ela diz já ter recebido três propostas e está avaliando. A ideia é poder levar também para outras cidades. “Conforme a pandemia se comportar, devemos ter em mais duas capitais.”

Fonte:https://revistapegn.globo.com/Administracao-de-empresas/noticia/2021/05/empreendedora-fatura-com-coworking-para-medicos-e-dentistas-criado-na-pandemia.html