Ana Paula Lage desenvolveu um sapato que favorece a musculatura das crianças e, por conta da inovação, foi até a França ganhar prêmios.
Ana Paula Lage jamais pensou em se tornar empreendedora. Mas dentro de sua carreira acadêmica, acabou encontrando um novo rumo que poderia ajudar futuras gerações. Em fevereiro de 2017 ela abriu a Noeh, uma marca de calçados infantis feito para evitar lesões musculares no futuro.
Graduada em design, Ana começou a trabalhar com calçados já na faculdade, em um projeto do curso. Seu primeiro mestrado foi dentro da área. Querendo continuar na carreira acadêmica e estudar mais o design de sapatos, fez outro mestrado sobre inovação e sustentabilidade. O objetivo era conhecer os materiais usados na área.
Mas em 2013, enquanto terminava a especialização, a empreendedora descobriu que seria tia. Para presentear a criança, Ana queria algo que fosse único e que fosse feito por ela. Foi então que a teoria encontrou a prática e suas pesquisas sobre design de calçados se tornaram um produto.
Os sapatos infantis envolvem variáveis diferentes dos adultos. De acordo com a empreendedora, não existe um padrão de numeração para esses calçados e cada empresa usa uma tabela de medidas. Além disso, Ana descobriu que muitos problemas musculares surgem ainda na infância, por conta do uso de materiais e formatos impróprios.
A partir dali, a empreendedora decidiu redirecionar sua pesquisa para focar no desenvolvimento do pé infantil, com foco em crianças de zero a três anos. No meio de 2014, ela terminou o segundo mestrado com uma descoberta: cerca de 70% das pessoas chegam aos sete anos de idade com problemas nos pés, mas apenas 10% nascem com esses problemas.
A conclusão sugeria um mau desenvolvimento das extremidades. As razões para isso são duas. A primeira é que nossos antepassados andavam descalços e em terrenos irregulares, diferente do que acontece hoje. “Nossa musculatura não se desenvolveu para andar no chão reto e duro”, diz Ana. A segunda é que a maioria dos calçados infantis são desenhados como miniaturas dos sapatos adultos. Mas a morfologia dos dois é diferente e, portanto, o formato do pé infantil pode ser afetado pelo uso errado.
Com essas questões na cabeça, a empreendedora desenvolveu um protótipo e o inscreveu no Prêmio Sesi Senai de Inovação. Ela ganhou capital para produzir o sapato. O produto foi desenvolvido para criar no pé da criança a sensação (e os benefícios) de andar descalça — o solado, por exemplo, é irregular, o que auxilia na formação da musculatura. Foi necessário um ano para que o calçado ficasse pronto e fosse para o mercado, em 2017.
Com o produto em mãos, Ana decidiu criar um site e tentar abrir um negócio. Com a página no ar e a patente em mãos, a empreendedora foi até a França para participar do programa de aceleração Startout Brasil. Ela ficou em primeiro lugar. “Foi como uma confirmação que o negócio tinha futuro”, diz. Desde 2018 a Noeh se tornou uma companhia e Ana, uma empreendedora.
Mas só no final deste ano que ela começou a focar no negócio, depois de fazer a defesa do mestrado em agosto. “Estou completamente dentro a partir de agora”, afirma. Por enquanto, a entrada dentro do mercado tinha sido totalmente orgânica e gradual.
O calçado em duas linhas: básica e premium. As duas têm a mesma palmilha e benefícios, mas a premium é mais fresca e resistente. O valor também a varia, a mais simples custa R$ 196 e a segunda, R$ 232. Os dois modelos são vendidos em um showroom em Belo Horizonte, em Minas Gerais e pelo e-commerce.