13/07/2018

“MEU TRABALHO É CONECTAR PESSOAS”, DIZ ROBERTA VASCONCELLOS, DA BEERORCOFFEE

Empreendedora fala sobre o fracasso de seu primeiro negócio, o Tysdo, e sobre os desafios de criar o “Airbnb do coworking” no Brasil.

A mineira Roberta Vasconcellos, de 30 anos, é uma das empreendedoras mais conhecidas do ecossistema de startups. Ela é uma das cofundadoras da BeerOrCoffee, uma plataforma de reservas de coworkings e outros ambientes de trabalho.

No entanto, a vida de Roberta, assim como a de qualquer empreendedor, não é feita só de sucessos. Em 2013, ela se tornou conhecida por fundar o Tysdo, um app cuja principal missão era ajudar seus usuários a realizar seus sonhos. O negócio ganhou certa relevância, mas quebrou.

Quando abriu o BeerOrCoffee, em 2015, a startup tinha uma proposta bem diferente. Mas a empreendedora percebeu que poderia ganhar mais dinheiro se seguisse outra direção . E pivotou – ou seja, mudou bastante o seu modelo de negócio.

Em entrevista a Pequenas Empresas & Grandes Negócios, Roberta compartilha o que aprendeu com o fracasso, fala sobre como foi empreender após criar um negócio que não foi para a frente e sobre a nova fase do BeerOrCoffee. Confira:

Roberta, você poderia falar um pouco sobre a sua vida antes de virar empreendedora?
Eu sempre fui meio empreendedora, daquelas que vendem coisas no colégio, sabe? Eu sou formada em publicidade. Fiz estágio em agências de publicidade, na área de marketing de algumas empresas. Conforme a faculdade avançava, sentia que queria fazer algo diferente, mas não sabia muito bem o que fazer.

Quando tinha uns 21 anos, ouvi falar de startups pela primeira vez. Fiquei interessada. Acabei sendo contratada como estagiária de vendas na Samba Tech, fundada pelo Gustavo Caetano. Passei três anos lá. Cheguei a comandar uma equipe e montei um time de pós-vendas na empresa.

Vi que, em uma startup, aprende-se rápido. A autonomia também vem rapidamente. Descobri na Samba Tech o valor do networking e criei uma rede de relacionamentos bem bacana. De lá, saí e abri o Tysdo.

E o que exatamente era o Tysdo?
Era um app que ajudava as pessoas a realizar seus sonhos. Para atingir esses objetivos, nós queríamos conectar pessoas para que eles fizessem coisas juntas. Um bom exemplo foi juntar pessoas que desejavam jogar tênis. 

O negócio começou bem. Participamos do Start-Up Chile, programa do governo local que é um dos mais reconhecidos da América Latina. Trabalhamos em parcerias com várias empresas, dispostas a ajudar seus consumidores a conquistar coisas novas. Foi uma experiência interessante.

Mas o que a empresa não decolou. Quais foram as razões para esse insucesso?
O Tysdo não foi para a frente por alguns motivos. O modelo de negócio era o principal desafio. No fim, para ganhar dinheiro, viramos mais uma agência de marketing de experiência do que uma startup. Nossa monetização tinha base em projetos, algo que não era o nosso interesse.

Além de ter essa pegada de agência, tínhamos cara de rede social. E basta ver o quanto Facebook, Instagram e outras plataformas demandaram investimentos para ganhar tração e se tornar o que são hoje. O problema é que, no Brasil, não temos nenhum Peter Thiel para ajudar os empreendedores das redes sociais [Peter Thiel é fundador do PayPal, um dos grandes investidores do planeta e uma das primeiras pessoas a injetar dinheiro no Facebook].

Outra coisa é que trabalhávamos em muitas frentes. Os sonhos das pessoas são ligados à saúde, bem estar, viagem, trabalho e muitas outras coisas. E no fim, percebemos que o nosso grande objetivo, além das realizações, era conectar pessoas. E aí decidimos partir para outra.

E quais foram os principais ensinamentos trazidos pelo fim do Tysdo?
A primeira é que é preciso validar melhor o modelo de negócio. Percebemos que não dá para desenvolver uma linha de código sequer sem validação, sem saber como o dinheiro virá. Outra coisa é que o fracasso ajuda a gente a desapegar da paixão. O amor pela sua criação faz você relevar algumas métricas ruins.

Outra coisa: o Tysdo fez a gente perceber o tamanho do desafio que é criar um negócio com características de rede social no Brasil. A gente também aprendeu o valor de uma boa equipe. Vimos que, realmente, uma empresa ruim pode ir para a frente com pessoas boas – mas uma não há empresa que conquiste o sucesso com uma equipe ruim. Aprendemos a escolher o perfil certo de pessoa para trabalhar com a gente.

E de onde veio a ideia para o BeerOrCoffee?
No fim, como eu disse, percebemos que o Tysdo era um aplicativo que conectava pessoas. Então demos um passo atrás e decidimos criar um produto voltado ao networking. Percebemos que não havia nenhuma empresa que conectasse pessoas com objetivos profissionais afins.

E como pensamos que, ao encontrar alguém, tomamos um café ou uma cerveja, demos o nome de BeerOrCoffee à nossa empresa. A empresa foi lançada no fim de 2015.

Nós funcionávamos como um Tinder dos negócios. Era possível convidar alguém para um café ou uma cerveja. Só era possível entrar no app por meio de um convite, pois queríamos criar uma rede bem qualificada. O modelo de negócio era simples: ganhávamos o valor do primeiro café entre dois usuários do serviço.

O serviço conectava pessoas que estavam próximas umas das outras. Por isso, o app foi bastante usado em comunidades de empreendedorismo como o Cubo, o Campus e espaços de coworking.

Fomos conhecendo essas comunidades e percebemos que poderíamos pivotar e tornar o negócio mais lucrativo. Nós vimos que não havia nenhuma empresa que conectava trabalhadores e empresários a espaços de trabalho, como coworkings, salas de reuniões ou qualquer lugar em que alguém poderia trabalhar. Decidimos, então, apostar em um serviço que fosse o “Airbnb do trabalho compartilhado”.

E aí o negócio mudou de novo…
Isso. Viramos uma plataforma que conecta as pessoas aos ambientes de trabalho. Mas continuamos, assim como no Tysdo, ajudando pessoas a criar conexões valiosas, pois ao estar em um espaço compartilhado, é mais fácil conhecer pessoas e fazer negócio.

Como funciona o BeerOrCoffee hoje?
Quem assina o serviço pode trabalhar em qualquer um dos espaços que são nossos parceiros. Hoje, há 440 locais em 100 cidades do país em que os assinantes podem trabalhar. São locais grandes, pequenos, de todos os gostos e estilos. Também temos dois espaços disponíveis em Portugal. É possível pagar para trabalhar em qualquer um dos espaços parceiros por um mês, 10 dias ou cinco dias.

Estamos focados em pessoas dispostas a trabalhar em diferentes locais e também em empresas. Por exemplo, há companhias que têm uma matriz em uma determinada cidade, mas funcionárias espalhadas pelo país. Às vezes, não faz sentido ter uma sede própria, então elas usam os serviços da BeerOrCoffee. A Gympass é uma das empresas que são clientes e se enquadram nesse perfil.

Também há negócios, como a Roche e a Basf, que optam em mandar os empregados para os coworkings, para conhecer gente nova e levar inovação e conexões para a empresa.

Além disso, a BeerOrCoffee aluga salas de reunião por períodos menores de tempo.

Você abre o faturamento da empresa hoje?
Infelizmente não, mas posso revelar que temos 14 pessoas e que já operamos no azul.

E quais são os seus planos em relação ao negócio?
O maior sonho é transformar a BeerOrCoffee em uma plataforma global, ajudando as pessoas a trabalhar mais felizes e de formas mais colaborativas. E continuar fazendo o que fazíamos desde o Tysdo: conectar pessoas.

Fonte:https://revistapegn.globo.com/Startups/noticia/2018/07/meu-trabalho-e-conectar-pessoas-diz-roberta-vasconcellos-da-beerorcoffee.html