17/09/2020

Tecnologia no chope e startups: como a pandemia transformou o Bar Brahma

Ponto turístico de São Paulo enfrentou boatos de fechamento definitivo durante a pandemia e precisou se reestruturar para atender às novas normas sanitárias.

“Infelizmente mais um cartão postal de São Paulo fechando as portas definitivamente”. O boato que circulou no Facebook no final de maio dava como certo o encerramento do Bar Brahma, localizado na esquina mais famosa da capital paulista, ali onde "alguma coisa acontece no meu coração". A mensagem em tom melancólico, no entanto, continha uma meia-verdade: o bar estava fechado, devido à quarentena imposta pela pandemia do novo coronavírus, mas longe de ter decretado o fim das atividades.

Enquanto não podia receber clientes, a Fábrica de Bares, que administra o Bar Brahma e mais uma dezena de casas em São Paulo, se concentrava no retorno às atividades: o delivery criado durante a pandemia, não representava nem 5% do faturamento do estabelecimento – que tem um apelo maior na experiência e é um ponto turístico da cidade. Por outro lado, a empresa tinha inaugurado um centro de inovação e fomento ao empreendedorismo em novembro do ano passado, o FabLab, que se mostrou mais útil do que nunca.

“A ideia de criar o FabLab surgiu porque algumas startups vinham nos procurar para oferecer serviços. Pensamos que seria mais interessante ajudar a desenvolver esses negócios, até para eles conseguirem vender para o mercado”, afirma o sócio-proprietário da Fábrica de Bares, Caire Aoas.

Do FabLab saíram soluções como o Eshows, que ajuda no gerenciamento dos eventos que ocorrem na casa, com localização de artistas nas redondezas, seleção e agendamento, e o Estaff, que ajuda a encontrar profissionais freelancers para o setor. Até novembro, a incubadora divulgará um edital para receber mais startups que ajudarão a trazer tecnologia para o mercado de bares e restaurantes.

No entanto, além do FabLab, o Bar Brahma calcula ter investido cerca de R$ 250 mil para acelerar alguns processos tecnológicos que permitem uma experiência no local “sem contato”, em parceria com a ZigPay, que já era fornecedora do grupo. Agora, os "passadores de chope", por exemplo, não usam mais canetas e papéis para anotar quantos copos ficaram na mesa. Um aparelho no braço do garçom permite que o cliente aproxime a comanda e registre o pedido.

Essa mesma comanda ajuda a registrar todos os dados do consumidor, para que o Bar Brahma consiga desenvolver serviços e ofertas mais personalizadas no futuro. O cliente ainda pode baixar o aplicativo da casa e realizar o pagamento por lá, sem contato.

Em entrevista a PEGN, o presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (AbraselSP), Percival Maricato, comentou que uma das dificuldades ainda enfrentadas pelo setor é o retorno das casas como o Bar Brahma, que têm shows e eventos como atrações principais. A entidade tem defendido que as casas retomem as atividades, com os devidos protocolos. No início do mês, a Prefeitura autorizou o funcionamento de salões, casas de shows e boates como restaurantes.

Com os boêmios ainda reticentes em voltar aos bares, e os turistas desestimulados a visitar São Paulo, o estabelecimento resolveu também apostar em inovações no cardápio e atrair os fãs de gastronomia. Para deixar o ambiente ainda mais paulistano, a casa agora trabalha com um novo menu completo de pizzas e contratou um chef especializado em drinques. "A comida não era o que motivava as pessoas a ir ao restaurante, agora temos uma oportunidade aí", diz o empreendedor.

Com a reabertura da casa, o delivery foi interrompido. Aoas diz que há possibilidade de retomar a atividade posteriormente, mas esse não é o foco. “A preferência das pessoas vai ser sempre ao vivo. Principalmente quando nos posicionamos como bar que oferece entretenimento.”

O movimento atual, mesmo com a redução imposta pelas autoridades sanitárias, está em torno de 45% do normal, o que ele considera baixo. Mas Aoas considera que isso demonstra uma predisposição ao retorno do consumidor. “Além disso, o boato que circulou sobre o fechamento também ajudou a aumentar o interesse das pessoas por nós.”

Fonte:https://revistapegn.globo.com/Banco-de-ideias/Alimentacao/noticia/2020/09/tecnologia-no-chope-e-startups-como-pandemia-transformou-o-bar-brahma.html